Durante o mês de setembro de 2021, a Bienal de Arquitetura de Veneza recebeu a participação da Cerejeira Fontes Arquitetos (CFA) na exposição “In Conflict”, organizada pelo depA Arquitetos. Esta reuniu diversos projetos que abordam a problemática da habitação básica e o seu direito fundamental. O contributo da CFA para o evento foi através do projeto “Ilha da Bela Vista” (2013-2017), um exemplo de arquitetura básica e participativa que reflete a interação entre os habitantes e o espaço urbano.
Assim, a instalação em destaque foi “A Metáfora do Olhar”, uma representação simbólica do papel das persianas e dos bancos enquanto elementos de mediação na habitação coletiva. Inspirada no modelo de habitação das ilhas do Porto, a instalação explorou a relação entre interior e exterior, bem como a forma como os habitantes interagem com o espaço envolvente.
A persiana foi utilizada como elemento-chave da instalação, simbolizando a transição entre a vida privada e pública. Para além de regular a entrada de luz e permitir diferentes níveis de privacidade, este elemento também carrega uma forte carga simbólica. Representa o olhar discreto de quem habita estes espaços, estabelecendo uma ponte entre a cidade densa e a cidade invisível dentro das ilhas.
Já o banco, outra componente essencial da instalação, simbolizou o ponto de encontro entre os vizinhos. Mais do que um simples assento, este elemento materializa o ato de observar, de escutar e de partilhar experiências do quotidiano. No contexto das ilhas do Porto, os bancos são espaços de interação e cumplicidade, onde a vida comunitária se desenvolve e se perpetua através de memórias coletivas.
A instalação “A Metáfora do Olhar” procurou assim captar a essência da habitação nas ilhas, refletindo sobre a forma como os elementos arquitetónicos condicionam e enriquecem a experiência de habitar. Através de uma abordagem sensorial e simbólica, o projeto da CFA destacou a arquitetura como um fator de ligação entre o indivíduo, o espaço e a comunidade, reafirmando a importância da arquitetura participativa na construção de um ambiente urbano mais humano e inclusivo.
A presença do atelier Cerejeira Fontes Arquitetos na Bienal de Veneza reforça o seu compromisso com uma arquitetura que transcende a mera função construtiva, explorando o impacto social, cultural e emocional do espaço habitado. Com a sua participação na exposição “In Conflict”, a CFA contribuiu para o debate global sobre a habitação básica, demonstrando que a arquitetura pode e deve ser um instrumento de inclusão e transformação social.